Dercy.

Minha Dercy de verdade, é minha tia avó. Doida doida de pedra. Debochada, desbocada... e desenrolada. Mas acima de tudo guerreira. 

 Minha velha não teve nenhum filho de sangue. Mas criou uns cinco "minino" alheio... sozinha. Não quis se casar e não foi por falta de pretendente não, porque namorar essa danada namorou demais... Mas como ela mesma diz: 

        "o namoro não era essa molecagem de hoje, beijo de língua? Nemmmm pensar. Senão eu tinha  engravidado. Com certeza!. Aí, eu teria que casar ..."

Foi a primeira moça da cidade a vestir calças. Um escândalo. E ela? Não tava nem aí...  Mandava todo mundo se foder. Não gostava mesmo de cruzar as pernas. Por que homem senta de qualquer jeito e ela não? Uma saia não a faria menos mulher. Ela nunca mais usou saia, nem vestido desde então.

 Depois das calças.. o cigarro... vovó parece uma chaminé. E a desculpa de hoje é que já tá velha e a morte próxima. Quando ela começou, o vício era coisa de gente fina (iecati).

Vovó foi a única dos três filhos da dona Regina que teve peito pra estudar fora da cidade. Morar de favor, morar em pensionato, morar de qualquer jeito só pra ter condição de viver como vive hoje... sem precisar dar satisfação do que faz  pra seu ninguém.

Vovó nunca fala sério e sempre fala em caralho(meu pai diz que é trauma, complexo, porque ela é virgem até hoje, a,  não comentei isso..pois é, ela é "moça velha". "E se você não acredita, problema o seu. haha"). 

Mas outro dia ela me chamou pra falar de amor. Perguntou se eu tava amando. Eu disse que não sabia, achava que não. Vovó me advertiu: "Não tá. Quando a gente ta apaixonado a gente sabe, eu nunca me apaixonei. Só por isso não casei. Case só se for por amor filha, senão o casamento vira palhaçada. Mas, se o amor chegar... foge com ele!".

E eu? Sorri ... Preferi não comentar com a vó sobre o meu medo de escuro.